Pálida, bate a porta com força ao sair, o tango na vitrola se mistura a batida de seus passos pesados, o que é um paradoxo diante de seu esbelto corpo. Fumo meu quarto cigarro do dia enquanto olho fixamente para o papel de parede mofado a minha frente. Volto ao Meu papel. Rabisco corpos em furioso movimento, rostos em passiva inércia, minha visão se embaça misturando tudo em um frenesi de grafite. O whisky acabou, acho que vou encher a garrafa com lágrimas, para dar uma utilidade ao recipiente. A umidade não faz bem ao carpete.
Perco a conta de quantos papéis já amassei.
Mas há sempre uma folha em branco em algum lugar.
Arthur Marques